Língua Gestual nas Escolas: “Precisamos de formação para compreender as crianças”
As crianças são a geração que vai tomar conta de Portugal no futuro. Afinal, que desafios enfrentam os alunos com deficiência no acesso a educação portuguesa?
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Nos corredores da Escola Básica do Bairro Económico, em Braga, sente-se o calor das crianças, a paciência dos professores, a energia para aprender. No fundo ouve-se o barulho das salas... nem todos esses alunos são capazes de ouvir essa galhofa. Estes tiveram a infelicidade ou a felicidade de nascerem como “crianças diferentes”. Em comum têm a esperança de poderem aprender e se sentirem integrados por todos os meninos que fazem parte da turma.
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Quando dá o toque da escola, as crianças correm de encontro aos seus professores, alguns querem ser os primeiros a chegar. Para aqueles que têm o problema da surdez acabam por ficar um pouco isolados, mas quando se apercebem que os colegas se dirigem a sala fazem os possíveis para chegar ao mesmo tempo.
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A Escola primária acolhe nove alunos com surdez: “Existe uma turma só com essas crianças que não falam, nem ouvem e uma das crianças está integrada numa turma de 2º ano”. Um dia por semana é proporcionado a todos os alunos da escola uma aula de língua gestual, “mas não é suficiente, é impossível aprender em uma hora”, comenta Joana Olivais, assistente operacional de alunos com deficiência auditiva.
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De acordo com os Censos 2021, 2,8% das pessoas em Portugal tem incapacidade de ouvir. As assistentes operacionais, Joana e Luísa, afirmam que é “100% importante a integração destes alunos, porque não têm culpa de ter nascido com uma deficiência”. “O nosso trabalho é tentar que aprendam como as outras crianças”.
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Os Censos integram um sistema estatístico nacional, que pode incluir outros recenseamentos, inquéritos, registos e arquivos administrativos. Fornecem, em intervalos de tempo regulares, o valor de referência da contagem da população, a nível nacional e local feito pelo Instituto Nacional de Estatística. O último censo teve lugar em 2011.
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​​​​Joana Olivais trabalha na escola há 4 anos e nunca teve uma formação sobre língua gestual portuguesa, “sinto que é uma lacuna muito grande”. “Não faz sentido nós estarmos a trabalhar num sítio onde não conseguimos apoiar as crianças”.​ “Falta-nos formação. Não houve, até hoje, nenhum tipo de formação para os assistentes operacionais. Só conseguimos comunicar porque fomos aprendendo com as crianças e com os professores do ensino especial”, reflete Luísa Aguiar. “Precisamos mesmo dessa formação, porque muitas vezes não conseguimos compreender as crianças”.
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“Sinto falta de um apoio mais consciente nas escolas voltado para formações continuadas com objetivo de entender as deficiências e atuação na prática da educação inclusiva.”, acrescenta Joana. A formação aos professores e aos funcionários das escolas é o passo a seguir para melhorar o nível de ensino em Portugal.
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​​​​​​​​​​​​Rodrigo, o nome fictício, faz parte dos 2,8% das pessoas com incapacidade de audição. É acompanhado por uma docente especializada em língua gestual portuguesa que passa a mensagem da matéria dada pela outra professora. Ambas não estão ao serviço hoje; é dia de greve da função pública.​ Joana relembra que “ainda não existe um professor que consiga fazer duas coisas ao mesmo tempo. É necessário termos uma segunda pessoa na sala para o aluno ser capaz de acompanhar a aula”.
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- E os pais? Que papel têm no desenvolvimento destas crianças?
“Primeiramente têm de aceitar a deficiência da criança. Depois disso manter o contacto entre pais e a escola”, “Por vezes ficamos sem saber qual é o comportamento do aluno em casa e na escola, o que dificulta o nosso trabalho. Nós só queremos o bem destas crianças e se os pais não forem capazes de colaborar connosco não temos muitas opções”.
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E no futuro que desafios irão enfrentar? Uma questão colocada por Joana, “será difícil para estes alunos ingressarem no mundo do trabalho, as pessoas infelizmente têm preconceito”. “Raramente vemos pessoas com deficiência, a trabalharem num estabelecimento público.” “Estão fechadas em escritórios para que ninguém as veja”. “Será vergonha?” e ficou por ai pensativa.
Estas crianças partilham o sonho de aprender e de se sentirem integradas. Os números dos Censos feitos em 2011 revelam que quatro em cada cinco crianças em Portugal têm necessidades especiais de educação, sublinhando a importância da integração. Diante das barreiras impostas pela surdez e pela falta de formação em língua gestual para os assistentes operacionais, Joana Olivais e Luísa Aguiar concluem: “as crianças são felizes e nós fazemos tudo para que assim seja”.