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Língua Gestual nas Escolas: “Precisamos de formação para compreender as crianças”

Antonela Andrade - 27/10/2023

As crianças são a geração que vai tomar conta de Portugal no futuro. Afinal, que desafios enfrentam os alunos com deficiência no acesso a educação portuguesa?

Nos corredores da Escola Básica do Bairro Económico, em Braga, sente-se o calor das crianças, a paciência dos professores, a energia para aprender. No fundo ouve-se o barulho das salas... nem todos esses alunos são capazes de ouvir essa galhofa. Estes tiveram a infelicidade ou a felicidade de nascerem como “crianças diferentes”. Em comum têm a esperança de poderem aprender e se sentirem integrados por todos os meninos que fazem parte da turma.

Quando dá o toque da escola, as crianças correm de encontro aos seus professores, alguns querem ser os primeiros a chegar. Para aqueles que têm o problema da surdez acabam por ficar um pouco isolados, mas quando se apercebem que os colegas se dirigem a sala fazem os possíveis para chegar ao mesmo tempo.

A Escola primária acolhe nove alunos com surdez: “Existe uma turma só com essas crianças que não falam, nem ouvem e uma das crianças está integrada numa turma de 2º ano”. Um dia por semana é proporcionado a todos os alunos da escola uma aula de língua gestual, “mas não é suficiente, é impossível aprender em uma hora”, comenta Joana Olivais, assistente operacional de alunos com deficiência auditiva.

De acordo com os Censos 2021, 2,8% das pessoas em Portugal tem incapacidade de ouvir.

 

As assistentes operacionais, Joana e Luísa, afirmam que é “100% importante a integração destes alunos, porque não têm culpa de ter nascido com uma deficiência”. “O nosso trabalho é tentar que aprendam como as outras crianças”.

Os Censos integram um sistema estatístico nacional, que pode incluir outros recenseamentos, inquéritos, registos e arquivos administrativos. Fornecem, em intervalos de tempo regulares, o valor de referência da contagem da população, a nível nacional e local feito pelo Instituto Nacional de Estatística. O último censo teve lugar em 2011

 

Joana Olivais trabalha na escola há 4 anos e nunca teve uma formação sobre língua gestual portuguesa, “sinto que é uma lacuna muito grande”. “Não faz sentido nós estarmos a trabalhar num sítio onde não conseguimos apoiar as crianças”.​​​​

“Falta-nos formação. Não houve, até hoje, nenhum tipo de formação para os assistentes operacionais. Só conseguimos comunicar porque fomos aprendendo com as crianças e com os professores do ensino especial”, reflete Luísa Aguiar. “Precisamos mesmo dessa formação, porque muitas vezes não conseguimos compreender as crianças”.

“Sinto falta de um apoio mais consciente nas escolas voltado para formações continuadas com objetivo de entender as deficiências e atuação na prática da educação inclusiva.”, acrescenta Joana. A formação aos professores e aos funcionários das escolas é o passo a seguir para melhorar o nível de ensino em Portugal.

Rodrigo, o nome fictício, faz parte dos 2,8% das pessoas com incapacidade de audição. É acompanhado por uma docente especializada em língua gestual portuguesa que passa a mensagem da matéria dada pela outra professora. Ambas não estão ao serviço hoje; é dia de greve da função pública.

Joana relembra que “ainda não existe um professor que consiga fazer duas coisas ao mesmo tempo. É necessário termos uma segunda pessoa na sala para o aluno ser capaz de acompanhar a aula”.

- E os pais? Que papel têm no desenvolvimento destas crianças?

“Primeiramente têm de aceitar a deficiência da criança. Depois disso manter o contacto entre pais e a escola”, “Por vezes ficamos sem saber qual é o comportamento do aluno em casa e na escola, o que dificulta o nosso trabalho. Nós só queremos o bem destas crianças e se os pais não forem capazes de colaborar connosco não temos muitas opções”.

E no futuro que desafios irão enfrentar? Uma questão colocada por Joana, “será difícil para estes alunos ingressarem no mundo do trabalho, as pessoas infelizmente têm preconceito”. “Raramente vemos pessoas com deficiência, a trabalharem num estabelecimento público.” “Estão fechadas em escritórios para que ninguém as veja”. “Será vergonha?” e ficou por ai pensativa.

 

Estas crianças partilham o sonho de aprender e de se sentirem integradas. Os números dos Censos feitos em 2011 revelam que quatro em cada cinco crianças em Portugal têm necessidades especiais de educação, sublinhando a importância da integração. Diante das barreiras impostas pela surdez e pela falta de formação em língua gestual para os assistentes operacionais, Joana Olivais e Luísa Aguiar concluem: “as crianças são felizes e nós fazemos tudo para que assim seja”.

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